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quarta-feira, 9 de março de 2016
Toninho Carrasqueira
Antonio Carlos Moraes Dias Carrasqueira
* 09/09/1952 São Paulo, SP, Brasil.
Instrumentista, compositor, ensaísta.
Toninho Carrasqueira tem uma longa e premiada carreira como solista e integrante de grupos. Entre as inúmeras experiências importantes de sua trajetória, o flautista faz referência a seu ingresso, em 1970, na Orquestra Jovem Municipal de São Paulo, na qual conheceu o maestro e professor George Olivier Toni, cuja ampla visão musical e humanista o influenciou profundamente.
Outro momento importante aconteceu em 1973 quando, em duo com o pianista Jamil Maluf, participou do Festival Música Nova de Santos (SP), então um dos únicos espaços existentes para a divulgação do trabalho de compositores da atualidade, organizado pelo compositor Gilberto Mendes. "Participar desse festival fez-me refletir profundamente sobre o sentido do trabalho do intérprete, do músico que é um arauto, que traz a nova notícia e que dá voz aos compositores. Desde então, assumi comigo mesmo o compromisso de trabalhar junto aos compositores, estimulando a criação, apresentando peças em primeira audição."
Quando se dissolveu a Orquestra Filarmônica de São Paulo, Toninho Carrasqueira já tocava na Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo (OSM). "Essas eram as únicas duas grandes orquestras sinfônicas de São Paulo em 1972. É interessante constatar que, tanto em uma como na outra, eu era o único flautista brasileiro."
Paris foi, para Toninho Carrasqueira, uma porta para o mundo. "Conviver com pessoas de tantos lugares diferentes enriqueceu muitíssimo minha visão das coisas. Curiosamente, sabendo mais sobre o mundo, acabei sabendo mais sobre o Brasil. E sobre mim. Vivendo em Paris durante cinco anos e meio, tive o privilégio de estudar sob a direção de grandes mestres e em importantes escolas, como a Sorbonne, na qual cursei algumas matérias no curso de Musicologia."
A partir de 1975, Toninho Carrasqueira começou a tocar com diferentes grupos europeus, como o grupo de Música Contemporânea de Paris, que ajudou a criar e, depois, como solista da Orquestra de Câmara de Heidelberg, Alemanha.
Nessa época, o sonho de ser um artista respeitado, trabalhando na Europa, estava se concretizando. Toninho Carrasqueira realizava um consistente trabalho de solista, o que poucos conseguiam.
"Curiosamente, porém, depois de algum tempo, isso já não me satisfazia. Mesmo com minha carreira profissional se desenvolvendo muito bem, tocando uma média superior a cem concertos por ano, minha insatisfação crescia. De alguma forma, estava perdendo minha alegria de viver."
Em 1979, o flautista voltou ao Brasil. No mesmo ano gravou, ao lado de sua irmã ao piano, seu primeiro trabalho solo, "Osvaldo Lacerda - Música de Câmara", (Marcus Pereira, LP/1979; Produção Independente, CD/2006). "Foi um trabalho muito importante para mim."
Naqueles anos, Toninho Carrasqueira realizou, também, muitos trabalhos em estúdios de gravação. Tocando em jingles publicitários, ou participando de discos de cantores de diversas tendências, foi aprendendo a tocar os mais diferentes estilos e ritmos, como rock, funk, frevo, choro, samba, jazz, maracatu e bumba-meu-boi.
Dentre os acontecimentos importantes em sua carreira, o flautista cita sua participação, em 1986, no 1º Seminário Brasileiro de Música Instrumental, realizado em Ouro Preto (MG) e organizado por Toninho Horta. "Uma grande iniciativa, que congregou professores e intérpretes dos diferentes segmentos da música no Brasil. Eruditos, jazzistas, chorões, vanguardistas, barrocos, de várias partes do Brasil, estavam todos lá, ecumenicamente reunidos, tocando, lecionando e oferecendo oficinas. Trabalhando e discutindo vários aspectos da realidade do músico brasileiro. Um encontro revelador e muito estimulante."
Naquele mesmo ano, Toninho Carrasqueira foi convidado a participar de um grupo que faria uma série de apresentações com o artista pernambucano Antonio Nóbrega pelas ruas e praças de São Paulo. "Trabalhar a seu lado foi muito estimulante. Tocávamos frevo, samba, baião, maxixe... 'Mateus Presepeiro' era o nome desse espetáculo, que me permitiu realizar um desejo que se fazia cada vez mais forte, o de me aproximar da cultura popular brasileira e tocar para as pessoas na rua. Os músicos populares têm uma espontaneidade, um frescor e alegria, uma capacidade de improvisação que sempre me encantaram."
Essa experiência foi importantíssima para seu desenvolvimento como instrumentista em música popular: "Eu não sabia tocar de ouvido, não tinha o hábito de tirar e memorizar as músicas, improvisar, tocar sem partitura. Além disso, as pessoas me conheciam, já tinha um nome respeitado internacionalmente e, no entanto, como músico popular, eu me sabia principiante."
Estimulado por amigos como Edson Alves, Toninho Ferragutti e Tião Carvalho, entre outros, Toninho Carrasqueira foi conhecer de perto a vida dos músicos da noite. "Toquei em bares, acompanhei cantores, fui batizado nas rodas-de-choro e de samba."
A partir do grupo que acompanhava Antonio Nóbrega, formou-se a banda "Mexe com Tudo", que dedicava-se unicamente ao repertório de música brasileira, composta por Toninho na flauta, pelo acordeonista Toninho Ferragutti, o saxofonista Zezinho Pitoco, a cantora Virgínia Rosa, o baixista Swami Jr., o cantor Zé Fernando, o percussionista Guello e o baterista Adriano Busko.
O músico destaca, também, entre as experiências importantes que viveu, a participação na Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo, como músico e presidente da associação que representa seus integrantes, entre 1990 e 1996. "Podíamos, e essa era a intenção de seus criadores - Eduardo Gudin e Arrigo Barnabé -, retomar o fio da história da música popular orquestral brasileira, interrompido com o desaparecimento das Orquestras das Rádios Nacional do Rio de Janeiro, Record, Gazeta e Tupi de São Paulo."
Retomando seu trabalho internacional, em 1996 Toninho Carrasqueira participou da "I Convention Française de la Flute" em Saint Maur, França, que homenageava, numa de suas noites, seu professor Roger Bourdin, falecido em 1976. Dessa sua apresentação, realizada para uma platéia seleta de grandes músicos e críticos, descreve a ovação inesquecível que recebeu, e que lhe mostrou o grande poder da música brasileira: "Havia sido combinado que eu tocaria a 'Bachianas Brasileiras Nº 6' de Villa-Lobos para flauta e fagote, bem como a 'Sonatina' para flauta e piano, de Camargo Guarnieri. Chegando na França, um dia antes do início dos concertos, foi-me dito que não havia fagotista nem pianista disponíveis, e que eu tocasse alguma coisa para flauta solo."
Toninho Carrasqueira tocaria dentro de três dias. "A responsabilidade era imensa e tinha consciência de estar representando um país. Quase me desesperei. Lembrei-me, então, de recorrer a um velho amigo dos anos 1970, o violonista e percussionista Celinho Barros, que permanecera em Paris e construíra uma bela carreira como músico popular. Assim, convidei-o para tocar comigo. Felizmente ele estava disponível, gostou da idéia e me socorreu. Como Roger Bourdin amava a música popular brasileira, pensei em abrir minha participação tocando o 'Improviso' para flauta solo, de Osvaldo Lacerda e, em seguida, os choros 'Pedacinhos de céu', de Waldir Azevedo, e 'Um a zero', de Pixinguinha. Ao final, a platéia toda se levantou; os aplausos explodiram e só terminaram quando voltei, pela quarta ou quinta vez ao palco, desta vez sem a flauta, sinal de que não tocaria mais e o concerto seguiria então com outros músicos."
A retomada da carreira internacional compreende, desde então, concertos e aulas nos Estados Unidos, Equador, Peru, Argentina, Suécia e Noruega.
No Brasil, ao lado de sua mulher, a atriz e educadora Márcia Moirah, Toninho Carrasqueira começou a realizar, em 1997, um projeto de formação e educação artística, centrado na educação ambiental, com crianças do bairro do Perequê-Mirim, município de Ubatuba. Os dois fundaram, ainda, o grupo “Griôs Contadores de Estórias”, com o qual têm se apresentado sobretudo em escolas de bairros da periferia de São Paulo.
No mesmo 1997, em trabalho organizado por sua irmã Maria José Carrasqueira, o flautista participou, como revisor, ao lado do violonista Edmilson Capelupi, do livro "O Melhor de Pixinguinha" (Ed. Irmãos Vitale). No ano seguinte, revisou as partes de flauta de "O Livro de Patápio Silva" (Ed. Irmãos Vitale), de Julio Reis, Gaetano Braga, Ernesto Koeller e Willem Popp, lançado em 2001.
Ainda em 1997, Toninho Carrasqueira foi convidado a integrar o Quinteto Villa-Lobos, tradicional grupo de sopros que tem, por característica, privilegiar a produção contemporânea brasileira. Desde então, realizaram mais de uma centena de concertos, programas de rádio e TV, e três CDs dedicados à música de compositores brasileiros.
No ano seguinte, convidado pelo antropólogo Maurício Fonseca, o flautista participou de um trabalho com o povo Guarani. Como integrante da equipe de produção do CD "Nande Reko Arandu - Memória Viva Guarani" (MCD, 2002), Toninho Carrasqueira esteve diversas vezes em aldeias indígenas, experiência profundamente reveladora para ele.
O primeiro trabalho inteiramente concebido por Toninho Carrasqueira intitula-se "In Concert" (Paulinas/COMEP, LP/1990, CD/1990), gravado ao lado de Maria José Carrasqueira ao piano. A ele seguiram-se inúmeros registros fonográficos, como intérprete principal e integrante de diferentes grupos.
fonte = http://musicosdobrasil.com.br/toninho-carrasqueira
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