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A História dos Regionais



A História dos Regionais (por Sérgio Prata)
A primeira transmissão radiofônica no Brasil ocorreu em 07 de setembro de 1922, durante as comemorações do Centenário da Independência. Em meio às festividades, discursos do Presidente da República Arthur Bernardes e a transmissão da opera "O Guarani", se apresentaram, recém chegados de Paris, Pixinguinha e os Oito Batutas.
Essa presença pioneira marcou o início de uma parceria que, nos trinta anos seguintes, seria um elemento fundamental para o desenvolvimento da música popular no Brasil: os regionais e o rádio.
A evolução, desde o final do século XIX, dos trios de choro (flauta, violão e cavaquinho) foi à base do que passou a ser chamado de "conjuntos regionais".
 A generalização desse nome, provavelmente, originou-se na caracterização com roupas folclóricas, com que determinados grupos se apresentavam na Capital Federal (RJ), no final dos anos 20, dentre eles, os pernambucanos Turunas Pernambucanos, Turunas da Mauricéia e o carioca Grupo do Caxangá, com Pixinguinha.
No final dos anos 20, respirava-se uma certa euforia no meio artístico com o início das gravações elétricas (1927) e o surgimento dos programas de rádio que - pela sua característica comercial, com a veiculação de propaganda paga - abriam um novo mercado para a atuação dos músicos.
A aproximação com os grandes cantores de samba, principal gênero popular da época; a versatilidade para acompanhar calouros, já que os músicos de choro eram
 mestres no acompanhamento "de ouvido"; uma bem-vinda praticidade, pois não necessitavam de arranjos escritos, bastando saber o tom da música e acertar a introdução, além de um inegável virtuosismo, quando se tratava de apresentar o seu repertório de choro, fizeram dos regionais a formação musical ideal para a radiofonia brasileira, ainda no seu início.
No solo, uma flauta, bandolim ou clarinete dando a introdução para os cantores; na harmonização, um cavaquinho e dois violões fazendo contracantos em "terças", ou em "sextas", alinhavados pelo ritmo de um pandeiro de atuação discreta indicavam qual seria o formato a seguir.
Em 1930, surgiu o Gente do Morro, grupo que se destacou pela qualidade e organização musical e que reuniu pela primeira vez dois dos mais importantes músicos brasileiros:o flautista Benedito Lacerda e Waldiro Frederico Tramontano,o Canhoto do cavaquinho.
 Daí pra frente, com raras exceções, não houve música popular de sucesso, cantada ou instrumental, que não tivesse sido acompanhada por um regional. O Gente do Morro, em 1934, sofreu modificações em sua formação e passou a se chamar Regional de Benedito Lacerda. Em 1937, entraram dois novos violonistas, Dino e Meira, que junto com Canhoto formaram o mais importante núcleo de acompanhamento na nossa musica popular.
 De 1946 a 1950, ocorreu à fase mais criativa do grupo com a entrada de Pixinguinha no sax tenor fazendo os celebres contrapontos aos solos de Lacerda, período em que gravaram 34 obras primas do choro e brilharam na Rádio Tupi, no programa "O Pessoal da Velha Guarda", dirigido por Almirante.
Em 1951, Canhoto, Dino e Meira resolveram formar um novo grupo, pois já não concordavam com as constantes ausências de Lacerda que, bastante famoso e com um avião a sua disposição, mantinha inúmeros compromissos fora da atividade musical. Canhoto assumiu a direção do grupo e convidou Altamiro Carrilho para a flauta e Orlando Silveira para o acordeom, mantendo no pandeiro Gilson de Freitas. Pixinguinha saiu e se voltou para as orquestrações. Surgiu então o grupo que ficou conhecido como modelo de regional por excelência - o Regional do Canhoto.
 Posteriormente, com a saída de Altamiro e Gilson, entraram Jorge José da Silva, o "Jorginho do Pandeiro", o pandeirista Hercílio e os flautistas Arthur Ataíde, por um breve período, e Carlos Poyares, que atuou até o final do grupo.
Na primeira formação, com exceção de Canhoto, e provavelmente Gilson, todos no grupo sabiam ler partituras, o que elevava o nível de suas apresentações. Segundo Jorginho do Pandeiro, o sucesso era tanto que as gravadoras organizavam as agendas de seus astros de acordo com a disponibilidade que o Regional do Canhoto tinha para gravar.
Nessa fase, ocorreu mais uma imensa contribuição à música brasileira - Dino, inspirado no violonista Tute, começou a utilizar o violão de sete cordas.
 Assim, durante meio século, de 1930, com a criação do Gente do Morro, até o inicio dos anos 80, na interrupção da carreira do Regional do Canhoto, com o falecimento de Meira e Canhoto, essa linhagem de chorões, que foi se modificando através dos anos, fixou a relevância musical e histórica de um grupamento instrumental, e até hoje serve de referência para músicos e estudiosos da nossa música popular.
Cabe ressaltar que Canhoto, nessa trajetória, foi o único a pertencer a todas as formações do Gente do Morro e dos Regionais de Benedito Lacerda e, obviamente, do Canhoto.
Entre meados dos anos 30 e o final da década de 50, um vetor da qualidade de uma emissora de rádio era o seu regional. Nessa época, os lugares nos programas de auditório eram disputados pelos fã - clubes dos artistas.
Assim, o Gente do Morro e Jacob e Sua Gente eram da Rádio Guanabara. O Regional de Claudionor Cruz tocava na Rádio Transmissora. Waldir Azevedo e seu regional eram contratados da Rádio Clube. Os Regionais de Benedito Lacerda e Rogério Guimarães atuaram vários anos na Rádio Tupi. O Regional do Canhoto era exclusivo da Rádio Mayrink Veiga. Os Regionais de César Moreno e Dante Santoro foram da Rádio Nacional. Na Rádio Mauá atuavam Jacob e Seu Regional e os Regionais de Darly do Pandeiro e de Pernambuco do Pandeiro. Outro aspecto importante é que muitos desses músicos tinham carteira assinada pelas rádios e chegaram a se aposentar por essa atividade .
O início dos anos 60 aprofundou um certo declínio que os regionais já viviam no final dos anos 50. O surgimento do iê- iê- iê, nas rádios e gravadoras, e os shows de bossa nova, nas casas noturnas e teatros, reduziram praticamente a zero o mercado para os músicos de choro.
Em 1964, com o golpe militar, o Regional de Canhoto teve encerrado seu programa "Noites Brasileiras", na PRE-9 / Rádio Mayrink Veiga. A partir daí, passaram a acompanhar cantores em casas noturnas, principalmente, Silvio Caldas, realizar gravações antológicas como, por exemplo, com Ciro Monteiro e Cartola, ou shows históricos como "Rosa de Ouro" e "O Fino da Música", bela homenagem que receberam no Pavilhão do Anhembi (SP), em maio de 1977.
 Apesar do falecimento de Jacob do Bandolim, em 1969, principal músico de choro em atividade, e contrariando previsões pessimistas, o choro se revigorou, em meados dos anos 70, com o florescer de uma nova geração que trazia contornos próprios de uma etapa que se iniciava.
 Os Carioquinhas, Galo Preto, Camerata Carioca e Nó em Pingo d'Água, exemplos dessa fase, deram novas cores ao gênero, apoiados na herança dos grupos regionais e de mãos dadas com os mestres em atividade, dentre eles, Radamés Gnattali, Chiquinho do Acordeom, Altamiro Carrilho, Abel Ferreira e a Época de Ouro. O choro se preparava para o Séc. XXI.
Sergio Prata

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