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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Amilton Godoy



Amilton Godoy
Amilton Teixeira de Godói
2 de março de 1941
Bauru, SP
Amilton Godoy nasceu em uma família de músicos. Seu avô tocava alaúde; seus dois irmãos - Adilson e Amilson, tornaram-se profissionais; seu pai tocou violino em orquestra e trabalhava, também, como trompetista numa boate de Bauru (SP). Um de seus tios por parte de pai tocava trompete, outro, por parte de mãe, era maestro e pianista. 
"A música em casa era feita por prazer, por satisfação, e eu cresci participando desse ambiente, que me ajudou a desenvolver meu processo de musicalização. A gente tem uma escola e propõe esse processo, mas se você tem isso dentro de casa, não precisa nem procurar isso fora, vai ter ali mesmo essa possibilidade."
 A primeira professora de Amilton Godoy e de seus irmãos foi Nida Marchioni. "Comecei a aprender pelo caminho tradicional, com métodos correspondentes ao primeiro ano de piano, só que ao invés de ser no conservatório, era com uma professora particular. Ao mesmo tempo, eu aprendia também algumas harmonias, que meu pai e meu tio Sérgio, irmão de minha mãe, mostravam, relativas à música popular. Meu pai gostava muito de tocar tango, então ouvíamos e tentávamos reproduzir isso. Tivemos um grupo, que fazia muito sucesso no interior, de quatro irmãos, com arranjos feitos pelo meu tio Sérgio, eu tinha 11, 12 anos."
 O tio-avô de Amilton Godoy, que era seu vizinho, tocava violão. Uma das lembranças musicais mais antigas do pianista é a música que fazia com seus primos, aos domingos, quando o visitavam em sua casa. "Outra boa lembrança que tenho é meu pai tocando com orquestra, eu devia ter oito ou nove anos."
 Dos métodos que utilizava, Amilton Godoy recorda-se de "Estudos para Piano" (Ed. Ricordi), de Carl Czerny, e "Exercícios Técnicos Diários" (Editora Irmãos Vitale), de Oscar Beringer, todos eles praticados coma professora Nida. "Paramos de fazer aula com ela por um motivo muito interessante: a gente saía tocando música popular em Bauru e ela implicava, chegou até a ameaçar não mais dar aula pra gente, até o dia em que ela concretizou a ameaça. Fui então estudar com outro professor em Bauru, Efísio Aneda, outra cabeça completamente diferente. Estudei dois anos de harmonia tradicional com ele, e parei porque ele veio a falecer. Aí a professora Nida resolveu me aceitar de volta. Por mais que gostasse de música a gente ia para a aula de piano na marra, porque uma criança não tem suporte para agüentar uma hora de aula."
 "Certa vez, ela chamou meu pai e disse: ‘Olha, esses meninos têm que ir embora daqui, eu não tenho muito o que dar em aula para eles, têm que estudar em São Paulo, têm que ir para a escola Magdalena Tagliaferro’. Mandou-me para ser ouvido por Nellie Braga. Meu pai nos levou para fazer um teste, ela nos ouviu e nos aceitou como alunos. Por três anos viajei toda semana para São Paulo, viajava seis horas e vinte minutos de trem, tinha aula e pegava o trem de volta. A determinação era muito grande."
 Aos dezenove anos, Amilton Godoy participou, em São Paulo, do primeiro concurso nacional de piano, o Prêmio Eldorado, em 1970. "Não venci o concurso mas ganhei uma bolsa de estudos como prêmio. Com ela, eu pagava o meu estudo e minha pensão, ainda gostando de jazz, gostando de música brasileira, mas estudando seriamente piano erudito. Como estudava 11 horas por dia, comecei a ficar bom. Já trabalhando com o Zimbo Trio, ganhei o concurso Eldorado de música erudita, mas optei pela música popular."
"Ainda em Bauru, aos 13 anos, ouvi o primeiro disco de George Gershwin, encomendado por meu pai. Ouvi, ouvi, ouvi e não entendi nada, mas comecei a querer reproduzir aquilo. Essa escuta começou a desenvolver o meu ouvido: já que eu não tinha acesso a partituras, tentava tirar, tentava escrever, sei lá quanto tempo eu levei pra tirar a primeira música. Ia atrás dos solos, daquele fraseado, repetia tudo, escrevia, derretia o disco. Em outra situação, ouvi pela primeira vez Oscar Peterson, num programa de jazz da rádio A Voz da América. Também não entendi nada, como é que pode tocar piano desse jeito? Aí meu pai comprou o disco dele. Eu então tinha duas fontes diferentes, e o processo se repetiu."
 Quando mudou-se para São Paulo, Amilton Godoy recebeu o convite do músico José Ferreira Godinho Filho, o Casé, para integrar seu quinteto, experiência que se tornou decisiva em sua formação. "Com ele aprendi a improvisar; ele pegava os discos de jazz e me mandava tirar músicas para ensaiarmos com o quinteto. Com a bagagem da música erudita, pianisticamente falando, comecei a tocar música popular completamente diferente dos outros pianistas. Havia, em São Paulo, Moacyr Peixoto e Dick Farney tocando jazz e bem, eu curtia aquilo, mas não me dava mais o necessário, eu não tinha brasileiro para ouvir. Acho que o Zimbo Trio foi o primeiro grupo com uma proposta instrumental diferente. Eu aprendi com Oscar Peterson, com George Gershwin, todos os discos foram formando minha cabeça. Aquilo foi uma preparação para o Zimbo Trio".
 O Zimbo Trio foi formado a partir do convite que lhe foi feito por Rubinho Barsotti, de compor,  ao lado de Luiz Chaves, um trio para tocar na Boate Baiúca. Amilton Godoy, que iria participar do disco "Projeção - Luiz Chaves E Seu Conjunto" (RGE/Som Livre, LP/1963, CD/1994), foi procurado para substituir Moacyr Peixoto.
 "Adorei o convite para tocar com os dois, de quem até já tinha os discos. Aquela era a minha grande chance. Lembro-me de ter dito que não tinha condições de tocar com eles, que não tinha vivência suficiente de tocar na noite e de que não estava preparado. Os dois me ajudaram muito, Rubinho me apareceu com um monte de discos de dez polegadas, lembro até que alguns eram de Baden Powell. Por tirar essas músicas, comecei a entender de harmonia, desenvolvi muito o meu ouvido e peguei uns solos de cara. Certo dia, chegou da Europa Norma Bengell, a quem Rubinho conhecia. Aloysio de Oliveira estava produzindo a carreira dela nessa época, queria montar um show e precisava de um trio para acompanhar. Rubinho os convidou para ir uma noite na Baiúca, eles foram e adoraram. Preparamos o show, Aloysio fez o roteiros e eu, Rubinho e Luiz, ensaiamos com ela. No dia 17 de março de 1964, na Boate Oásis, no centro de São Paulo, foi a primeira vez que o Zimbo Trio tocou.

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