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quarta-feira, 6 de maio de 2015
Zé Coco do Riachão
Zé Coco do Riachão
José dos Reis Barbosa dos Santos
1912 Brasília de Minas, MG
13/9/1998 Montes Claros, MG
Instrumentista. Compositor. Acordeonista. Fabricante de rabecas.
Criado na localidade de Riachão, onde nasceu, às margens do rio que leva o mesmo nome, na confluência dos municípios de Mirabela e Brasília de Minas, no Vale do São Francisco. O pai era fazedor e tocador de violas. No momento de seu nascimento, passava uma folia-de-reis e ele foi consagrado pela mãe aos santos Reis; por isso "dos Reis" registrado em cartório. Zé Coco deixava claro sua devoção aos Santos Reis, e sempre se apresentava como José Reis Barbosa dos Santos.
Ouvindo seu pai tocar desde que nasceu, aos 8 anos, já tocava viola que ele mesmo ia aprendendo a fazer. Foi marceneiro, carpinteiro, ferreiro, sapateiro, fazedor de cancelas, de engenho, de carro de boi, curral de tira, roda de rolar mandioca, mas o que o tornou conhecido, inclusive internacionalmente, foi a excelência dos instrumentos que fabricava e tocava: viola, violão, cavaquinho e rebeca. Aos vinte anos, assumiu a pequena fábrica de instrumentos de seu pai.
Iniciou a vida artística acompanhando seus pais nas folias-de-reis. A carreira em discos começou em1980 através do violeiro, compositor e produtor cultural Teo Azevedo, que lhe deu o apelido de Riachão. Foi o jornalista Carlos Felipe que conseguiu patrocínio para lançar os dois primeiros discos de Zé Coco: "Brasil puro" e "Zé Coco do Riachão".
No lançamento de "Brasil puro" a crítica foi unânime em considerar que o trabalho do violeiro era um verdadeiro achado como expressão da nossa cultura popular. José Ramos Tinhorão considerou o trabalho como o melhor do ano na categoria autenticidade. O conhecido crítico dedicou-lhe calorosa crítica no Jornal do Brasil, na qual dizia: "Artista do povo da maior importância Zé Coco tem uma técnica de execução à viola tão desenvolvida que lhe permite tocar certas peças fazendo solo e acompanhamento ao mesmo tempo, e seus talentos são tantos que em uma das faixas do disco - a intitulada "Guaiano em oitava"- ele aparece não apenas na viola solo e fazendo a viola base, mas ainda tocando rabeca, caixa de folia e pandeiro". Daquele disco destacou-se a música "No terreiro da fazenda".
O segundo disco também chamou a atenção dos violeiros e dos críticos para seu estilo próprio, de solar e acompanhar ao mesmo tempo. O terceiro disco "Vôo das garças" saiu seis anos depois, através do projeto Trem da História. O título foi em homenagem a São Pedro das Garças, onde Zé Coco viveu durante vinte anos, e foi editado posteriormente em CD, com acréscimo de três músicas inéditas: "Moda pra João de Irene", "Amanhecendo" e "Minha viola e eu".
No ano em que veio a falecer, Zé Coco fez show no Sesc-Pompéia em São Paulo, durante o lançamento do CD "Violeiros do Brasil", do qual participou com uma faixa.
Em 1986, o violeiro participou do vídeo "Viola caipira", produzido pela UnB - Universidade Nacional de Brasília, ao lado dos violeiros Paulo Freire e Roberto Corrêa. Calangos, valseados, dobrados deram o tom do repertório do artista que foi, segundo a crítica, um dos maiores representantes da tradição da viola. Homem do povo, de poucas palavras, Zé Coco expressou a possibilidade da união do popular ao erudito, sem que um ou outro estilo perdesse suas características básicas. Autodidata, deixou discípulos espalhados em várias partes do país, especialmente em Minas Gerais, São Paulo e Goiás, onde a viola faz escola. Entre essa nova geração de violeiros e rabequeiros, estão Marimbondo Chapéu, Sinval de Gameleira, Paulo Freire, Roberto Corrêa e Chico Lobo. Artesão de sons, ele viveu 68 anos praticamente no anonimato, ocupado do ofício de construir e consertar instrumentos, além de animar bailes, compor melodias, muitas das quais se perderam por falta de registro. Não sabia ler nem escrever, e toda a habilidade desenvolvida com os instrumentos veio do convívio com eles sem nenhum estudo formal.
Afirmava que a única ajuda que recebeu foi através de uma "simpatia" tradicional entre os violeiros do Vale do São Francisco: pegar uma cobra e passar entre os dedos. O resultado é a facilidade que o violeiro terá em tocar seu instrumento. O músico tocou em mais de 50 folias-de-reis, sua paixão, onde aprendeu a ouvir os sons que se escondem em cada pedaço de folha, em cada centímetro do chão de Minas Gerais, como ele afirmava.
Na Alemanha, a partir de um filme com Téo Azevedo sobre cantigas de vaqueiro produzido por Dr. Ralf do 1º Canal de Baden Baden, foi afirmado que Zé Coco do Riachão seria o "Beethoven do sertão".
Em 2003, "Amanhecendo no sertão" e "Folia de Reis do Alto do Baeta",de sua autoria, faixas de seu 1º CD foi incluída no CD Violeiros do Brasil. O CD foi um projeto da gravadora Revivendo que reuniu importantes artistas da viola caipira de diversas regiões do Brasil, entre os quais, Almir Sater, Adelmo Arcoverde,Zé Gomes, Renato Correa, , Paulo Freire, Ivan Vilela, Pereira da Viola, Josias Dos Santos, Angelino de Oliveira, Renato Andrade, Tavinho Moura, Heitor Villa-lobos e Zé Mulato e Cassiano.A capa do CD apresenta o trabalho fotográfico de Angélica Del Nery no Urucuia, sertão de Minas Gerais, importante cenário da viola caipira e da obra de Guimarães Rosa. A produtora Myriam Taubkin idealizou o projeto. A gravação do disco foi sugerida pelo músico e produtor Benjamim Taubkin.
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